domingo, 11 de abril de 2010

Chuva, caos e vida loka...

O frio me deixa mal humorada. Fico toda encolhida, meus pés parecem cubos de gelo, as janelas têm que ficar fechadas e a fome nunca passa.

Nesse exato momento, por exemplo, estou toda coberta, só com as mãos pra fora pra digitar, um torcicolo me incomoda desde ontem e tô morrendo de vontade de tomar um café expresso mas sem a menor coragem
de botar o nariz pra fora de casa. Meus pés? Sim, continuam congelados.

Mas esses últimos dias foram muito intensos pra serem deixados passar em branco. Não preciso nem dizer o quanto o caos do Rio de Janeiro me causa tristeza, calafrios, angustia, preocupação, nós no estômago e mais uma série de sensações certamente compartilhadas por outros profissionais que atuam em desastres. Não vou me estender nesse assunto (o tema do post é outro) mas como essa não foi a primeira e certamente não será a última catástrofe cabe a pergunta: Até quando as políticas públicas de habitação e urbanismo ignorarão as pilhas e pilhas de relatórios técnicos que definem os critérios e limites para a ocupação de áreas frágeis como os morros, os mananciais e as várzeas dos rios? O que mais precisa acontecer pra entendermos que somos responsáveis SIM por toda essa bagunça em que se transformaram as grandes cidades? Quando é que vamos entender que o governo não é pai/mãe de ninguém, e que temos que fazer a nossa parte na tentativa de não piorar a cidade em que vivemos e votar certo também faz parte disso? Até quando vamos nos afastar cada vez mais do ideal da “Cidade Sustentável” rumo a “Cidade Vulnerável”? Sou contra aquele discurso que prega que “só o pobre é quem se lasca em desastre” mas para os que pensam dessa forma fica o dado já amplamente divulgado: Nos últimos 20 anos , cerca de 150 mil pessoas morreram em acidentes de trânsito em SP. Nesse mesmo período,o número de óbitos por conta das chuvas não chegou nem perto dos 10% desse total. E aí? Quer dizer que se acontece todo o dia, vira rotina deixa de ser desastre e tá tudo bem? Deixemos claro que independente "do que mata mais", números são dados frios. Nada refletem sobre vidas perdas e sofrimento, seja por esse ou por aquele desastre.

Pronto, falei.

Como disse, esse era pra ser um post sobre outro assunto então vamos lá.

Quinta-feira, choperia do Sesc Pompéia, primeiro show do Projeto Gerações Hip Hop que reúne os novos nomes aos antigos figurões do cenário do rap nacional. Não sou “do movimento” e confesso que sei muito pouco sobre, mas não dá pra negar que a forma de comunicação com linguagem e expressões próprias, como um dialeto, utilizado nos discursos que relatam a opressão das comunidades da periferia é única tanto pela força das expressões utilizadas como pela representatividade num país que é o oitavo colocado no quisito desigualdade social.



Mas o que me chamou mais atenção e, talvez o que tenham me movido a comprar os ingressos pro show com uma semana de antecedência temendo que os mesmos se esgotassem (e é claro que esgotou!) foi a presença de Mano Brown. Antes dele, outros Mc´s se apresentaram . Galera boa, som de qualidade. O show já estava rolando e era bom desde o começo com a apresentação da nova geração do rap mas... a hora em que “o cara” sobe no palco, o assunto fica sério. Papo de gente grande. Os rappers de antes, com toda sua marra e seus cordões de ouro pareciam recém saídos do jardim de infância perto do “presidente”, como Brown é chamado pelos parceiros do movimento.

Em resumo. O cara é fu-di-do (desculpem o palavrão mas não achei outra forma de me expressar!). A forte presença dele intriga a ponto de não se saber se ela é a causa ou conseqüência da sua postura de guerrilheiro urbano que mesmo após vender mais de 4 milhões de discos (incluindo piratas) e ter ido muito além dos limites da periferia, recusa-se a aderir às grandes mídias e participar de mega shows. Recusava-se. Segundo sua entrevista na Revista Rolling Stones de dezembro de 2009 http://www.rollingstone.com.br/edicoes/39/textos/mano-brown-eminencia-parda/, Mano Brown hoje está diferente. Mais maduro, mais permeável e militante de um rap menos conselheiro e mais companheiro, a própria entrevista foi um marco dessa mudança. “Querem me ouvir? Então agora eu vou falar”.
Então fala Mano Brown, fala por favor!!!!


"Alá! to vendo a cena vai chover e o rio vai transbordar
E meu castelo de madeira vai alagar.
Isento de imposto eu mesmo abraço com meus prejuízos
Natural sofrer se os cordões são indecisos..."
Castelo de Madeira (Racionais MCs)

Qualquer semelhança com o desabafo do começo desse texto, não é mera coincidência.

Hoje sem beijos, certo?!