Más vale tarde que nunca, si?
Considerando que o vôo estava marcado para as 4h da manhã, considerando que fazer uma mochilinha básica para 13 dias não é fácil e que fiquei um pouco atrapalhada com passagens, passaportes, vistos, vouchers, carterinha de vacinação, dinheiro, etc... nada poderia piorar, certo? Errado. Foram 4 aeroportos, ou seja, 8 visitinhas pra ir e pra voltar, onde passamos entre 2 e 3 horas em cada. Cerca de 20 horas sentadas em cadeirinhas super confortáveis e tomando cafés totalmente excelentes. Isso quando tinha café já que no aeroporto de Cayo Largo, rolou até pacandaria com 3 simpáticas senhoras argentinas por conta das 5 últimas balinhas da vitrine. Felizmente, toda a espera foi compensada pelas suntuosas instalações das aeronaves da Copa Airlines e suas suculentas refeições degustadas durante outras 16 horas pelos ares desse mundo de meu Deus.
Já em terra firme, passamos os dois primeiros dias em Vedado, bairro de Havana onde está localizado o super mega master, hiper hotel Tryp Habana Libre. Claro que esse tempo não foi suficiente para conhecer a cidade mesmo porque passávamos cerca de 3h30 tomando café da manhã. Era tanta coisa, mas tanta coisa, que quando acabava de me servir, o meu leite já tinha virado iogurte. Ainda bem que levei meu tenis de corrida pois a caminhada pelas mesas de pães, frutas, sucos, frios, saladas, ovos, linguiça, batata-frita, waffles, cereais, hamburguer, alface, queijo, molho especial, cebola e picles no pão com gergelim tinha no mínimo uns 5km.
Almoço das nações. Brasil, Colômbia, Venezuela, Cuba e Argentina. Sim, o rapaz com cara de bobo é o argentino!
Depois de 2 dias em Havana, partimos para Cayo Largo, um ilhazinha de 25km de extensão a cerca de 170km de Cuba. O percurso até o paraíso era de avião, ou melhor, algo que um dia já foi um avião. Um velho YAK-40 russo, fabricado no final da década de 70, sem acabamento interno, com entrada pela parte de trás e qua soltava muita, mas muita fumaça. Tudo bem, sem problemas. O máximo que aconteceria seria o avião cair e morreríamos todos no Mar do Caribe. Que luxo não?!
O vôo foi rápido, deu tudo certo mas nossa recepção foi meio fria. Além de não rolar o coquetel de boas vindas (depois daquele perrengue, até uma batida de coco desceria igual a champanhe) o tempo tava horrível. Já me imaginei jogando tranca durante os 3 dias na ilha, e provavelmente com as tais velhinhas argentinas!!!!
Felizmente oSOL apareceu e o jeito foi ficar jogada na praia o dia inteiro e sem fazer absolutamente nada. No resort, tudo incluído, na praia, tudo de fora. O naturismo é liberado mesmo porque Cayo Largo é frequentado essencialmente por europeus (principalmente italianos) e pelos que queriam ser europeus (os argentinos!). Cubanos por lá, só trabalhando nos resorts. A essa altura, já começava a entender um pouquinho do que poderia ser a vida em Havana, com todas suas particularidades sociais e econômicas... aguardemos os próximos capítulos já que o objetivo em Cayo Largo era fazer NADA!
Agora era pra valer. Adeus a mordomia, nada de carregadores de malas e suítes presidenciais. Após assim que voltamos de Cayo Largo, fomos direto para a “casa particular” do Ernesto. Só pra esclarecer: após o colapso da União Soviética, a economia do país também foi pra cucuia. Com o embargo total dos EUA, Cuba passou por um período de crise severa conhecido como Período Especial. O bicho pegou e para a ilha não afundar, o governo autorizou que parte da população trabalhasse por conta própria, alugando quartos em suas casas (casas particulares) ou fornecendo refeições em suas dependências (paladares), tudo extremamente controlado pelo partido, quero dizer, pelo governo. Só pra se ter uma idéia, 1 quarto para 2 pessoas nessas casas custa entre U$20 e 30, bem mais barato que um hotel e bem mais bacana se a intenção é conhecer a cultura do local.
Como as casas são beeeem antigas, os quartos eram bem gigantes. O Ernesto e sua família, incluindo gato, cachorro e peixinhos dourados no aquário foram muito atenciosos conosco.
Cuba é um lugar seguro. Li um pouco antes de embarcar e de fato, apesar da estranha aparência das ruas, as três donzelas puderam caminhar tranquilamente por Havana. Quer dizer, mais ou menos... Não houve um dia em que não fossemos abordadas na rua. Homem, mulher, velhos, casais, todos puxavam papo conosco perguntando da onde éramos, se estávamos gostando de Cuba e blá, blá, blá. Como somos educadas e simpáticas dávamos atenção a tooooodos os nativos e graças a essas “abordagens” comemos a melhor refeição da viagem num paladar (lagosta, lagosta, lagosta!), conhecemos o local onde foi filmado o Buena Vista Social Club e tomamos refresco de limão com cor de groselha e sabor de tamarindo no copo sujo. Assim como o brasileiro, o cubano é simpático, feliz, super receptivo mas não é bobo. Muitos puxam papo com os estrangeiros já que essa é a única forma de saber algo sobre o que acontece fora de Cuba; aqueles que indicam os paladares recebem comissão, que nada mais é do que uma refeição enquanto outros podem passar o dia inteiro com você rodando pela cidade em troca de um mojito ou uma cerveja. Como todos foram muito educados conosco e como pagar um drink pra alguém não é o fim do mundo o jeito foi por um sorriso no rosto e interagir (interagir com os italianos bonitões, só em Cayo Largo!) . Se você se sente só, se ninguém liga pra você, se seus amigos lhe abandonaram, vá pra Cuba. Lá é impossível ficar sozinho, em silêncio e quase invisível por mais de 47 segundos.
6. Quer pagar quanto?
Cuba tem duas moedas com valores beeeem discrepantes. Embora dizem que o peso cubano é a moeda do nativo e o peso conversível a do turista, descobri (no final de viagem, é claro!) que as coisas não são bem assim. A maioria dos mercados, lojas de produtos industrializados e restaurantes cobram e conversíveis (CUC). Já nos agromercados (uma espécie de sacolão), padarias, comida de rua e o cafezinho do bar, tudo é cobrado em cubanos. O problema é que nem sempre a moeda é explicitada no preço do produto. Um exemplo, fui tomar um cafezinho num bar que evidentemente não era pra turista. Perguntei quanto era e a senhora me disse UM PESO. Dei um peso conversível, o equivalente a um dólar quando na verdade o café custava um peso cubano, ou seja, cerca de 5 centavos de dólar! O engraçado é que não fiquei mal, nem tampouco com sensação de ser enganada" ou algo do tipo. Dias depois, até troquei dinheiro por pesos cubanos. Comprei um jornal, tomamos sorvete, tomei outro café e compramos um monte de pães. Embora tudo isso tenha custado menos de um dólar, confesso que não me senti a vontade. Saibam que é totalmente legal o uso do peso cubano por não cubanos mas como é moeda é fraca demais, pagar com ela é quase como não pagar nada.
Pra complicar um pouco mais, os cubanos recebem os salário em peso local. A média salarial é de 385 pesos cubanos, ou seja, menos de 20 dólares. A alimentação básica é subsidiada pelo governo mas tem cota limite. Porém tudo o que não é “alimentação básica” (sabonete, calçado, molho de tomate, cerveja, roupas, absorvente e salgadinho Chicotico) é cobrado em conversível. Considerando o gasto com água, gás, telefone que fica em torno de 100 pesos e a cota da alimentação, sobram cerca de 250 pesos para gastar, mais ou menos 10 dólares ou 10 pesos conversíveis. 1 litro de azeite custa 5, o absorvente custa 3 e uma cerveja (lata) custa 1. Pronto, acabou o dinheiro do mês. Nada de manicure, nada de calcinha nova, nada de happy hour... Sinistro né? Embora a Mariane ainda não tenha acreditado, infelizmente é assim.
7. O american way of life do Panamá
Foi um choque. Chegar no Panamá até fez meu pé sarar (sim, eu me machuquei na viagem, mais detalhes a seguir). Lojas, shoppings gigantescos, propagandas, coca-cola, Mcdonalds, compre isso, use aquilo... Não havia forma mais drástica de sermos reintroduzidas ao capitalismo. Chegamos sem nenhuma informação ou dica e só lá descobrimos que o point das compras era longe do aeroporto. Taxi? 40 dólares. Isso sem contar que além das compras, a visita ao Canal do Panamá também estava no roteiro. Isso tudo em um dia, já que o avião partia às 20h pra São Paulo.
Negociamos com um taxista alternativo, meio cantor, meio guia de compras e cheio de quaisquaisquais. Ele fez um preço camarada e nos levou para um tal shopping Allbrook que é gigante. Pra se ter uma idéia, tem um trem (dentro do shopping!) que leva os clientes de lá pra cá. E não é a toa. Tudo é no mínimo metade do preço daqui. Tênis, eletrônicos, roupas, sapatos, perfume... Me sentia naqueles programas que o participante tem que pegar o maio numero de mercadorias em 1 minuto pra poder levar tudo pra casa.
No horário marcado, partimos para o Canal do Panamá enquanto desabava um pé d´água na cidade. Chuva de dar medo, credo! Confesso que não fiquei empolgada com o canal, até porque não consegui tirar os olhos do motoca, afinal, todas as nossas compras estavam no carro dele. Se aquele cara sumisse com o Wi da Mariane provavelmente teríamos sérios problemas. Imaginou passar 5 horas no avião com alguém chorando e falando cerca de 849 palavrões por minuto? “Eu quero meu Nintendo Wi!!!!!!” esbravejava Mari.
Sendo assim, não vi direito o canal, não prestei atenção no guia e passei mais tempo com a tiazinha do café (muito simpática), literalmente de costas para essa maravilha da engenharia. Mas no fundo, no fundo, sou mais a eclusa de Barra Bonita.
Nós, no Canal do Panamá felizes pelo motorista não ter desaparecido com nossas compras
8. Outras coisas que aconteceram, merecem destaque mas que não um item inteiro
Cozinhamos em Cuba a verdadeira comida de guerrilha. Nada de temperinho, cebola picadinha, ervas finas e o caramba. Era macarrão cozido na água e sal. Só! Coisa fina... O verdadeiro sabor ítalo-cubano;
Quase morri. Como sempre, me f... no último dia da viagem. Torci o pé na rua e entrei em estado de semi-consciência no restaurante depois de comer um arroz de leche envenenado. Sinceramente pensei que fosse conhecer o excelente serviço médico de Cuba, mas logo me recuperei do siricutico. As dores no pé demoraram a passar e é por isso que resolvi entrar com uma ação contra o governo cubano, responsável por aquela calçada esburacada (se bem que toda a cidade é esburacada!). Continuo aguardando uma reposta;
Tentamos vender a Pepita mas não rolou. A pequena Rubia foi alvo de disputas calorosas porém as ofertas foram muito baixas. Como os interessados eram em sua maioria cidadãos locais e portanto, ganhavam mal, não chegamos num acordo.
Acho que foi a coisa mais tosca que já vi. Numa tarde ensolarada, eis que surge nas ruas um caminhão pipa e atrás uma fila de gente com garrafas e galões nas mãos. Pensei "deve ser o caminhão da cândida" até que o Chino (nosso outro novo amigo cubano) nos explicou que aquilo era refrigerante (refresco). O preço da bebida no mercado não é baixo e assim, nos caminhões sai bem mais em conta já que a bebida é subsidiada pelo governo. Não sei o que era mais estranho: ver aquele povo enchendo os galões na mangueirinha ou saber que o governo financia refrigerante para a população. Super saudável!
O café deles é melhor que o nosso. O chocolate é diferente, todos os doces tem o mesmo gosto e mesmo com 50 mojitos por dia a Mari não ficou bêbada;
Sim, salsa, merengue, reggaeton é legal mas é provável que não ouça mais Ricky Martin, Celia Cruz, Gloria Stefan e Buena Vista Social Club pelos próximos 10 anos... Cansei!
Apesar dos carros velhos, os cubanos tem bom gosto. Não vi nenhum Monza por lá.
Vou parar por aqui pois já estou sentindo novamente aquela sensação de estar sendo vigiada...
Beijos
4 comentários:
Se tem alguem que depois desse post quis ir a Cuba, de fato, esse alguem sou eu! Fiquei com MUITA vontade!! Parabéns pela aventuraaa. (invejinha hahahaha) Adorei o blog, de verdade (:
LUCY!!!!!!!!!!!!!
Como usted mesma disse "más vale tarde que nunca, si?"
Já lendo as primeiras linhas só vou discordar de uma coisa - o grande time de volei de Cuba sempre davam um cacete no Brasil, nos últimos anos nosso time é quem dá... mas isso é mero detalhe diante de tão inimagináveis revelações de sua viagem.
Realmente, nestas poltronas de avião caibo tranquilamente... (rs) Mas a viagem de Teco Teco deve ter sido tenebrosa, mas Nossa Senhora é maravilhosa, né? E como Cayo Largo é lindo!!! Realmente valeu o risco e é lógico a colaboração de São Pedro. Lindas fotos.
Havana - museu do chocolate, já vi que ía me acabar.... bombeiros ultimamente estou com problemas com este título (rs)
A foto da rua da casa do ernesto parace a rua do pelourinho em Salvador, só faltou o Olodum.
Não sei pq esse papo de se sentir sozinho, abandonado, sem amigos, me lembrou o níver do Kutcho (rs) ainda bem que passou... mas falando sério deve ser legal se sentir prestigiada, pediram autógrafo?
Com relação ao din din, realmente amo o capitalismo viu? Adooro trabalhar na pref....
No Panamá - shopping com trem adorei, a Mace tb iria adorar. Ainda bem que o tiozinho foi legal e honesto né...
Cadê a fiscalização dos passeios? Tb tá faltando agente vistor lá?
Como sempre seus textos são excelentes e realmente todos ficarão com vontade de ir lá, apesar dos contratempos, refris e mojitos sem rum já que não ficaram de porre.
Mas faltaram os detalhes sórdidos....
bejitos
Oie!!!
Já disse: o meu comentário vai virar um novo post! Direito de resposta!!
E eu não estou entendendo o q esse povo quer saber dos detalhes sórdidos!!
Bjos!!
Pessoal, quantas vezes mais precisaremos falar que a viagem foi tranquila? O volume de rum consumido fez toooodos os detalhes sórdidos desaparecerem...
Postar um comentário