E quando as vuvuzelas param de tocar...
Itália e França fora, Brasil classificado mesmo com alguns jogos nada empolgantes, nosso técnico causando no twitter... Enfim, situações fofocas, especulações e factoides típicos do maior campeonato de futebol do mundo.
Como já tem muita gente comentando, palpitando, criticando e fazendo previsões sobre a copa das vuvuzelas, não tô nem um pouco afim de ser mais uma a fazer piadinhas com a jabulani.
Não pensem vocês que isso é um ato de rebeldia ou mesmo de tentar boicotar o grande espetáculo futebolisitico mundial. A-do-ro copa do mundo!!! Ver o povo torcendo, festa em tudo o que é canto, bolão na repartição, ruas enfeitadas, isso sem contar as "folguinhas" que nossos queridos chefes têm nos proporcionado nos dias de jogos da seleção.
O fato é que por debaixo da bandeira verde amarela e naqueles pequenos instantes onde as vuvuzelas se aquietam, a realidade (re)aparece. Pra mim, ela nunca sumiu ou mesmo ficou encoberta pelos ruídos, frequentes em nosso país não somente no período da Copa mas também durante o Carnaval e outras festividades tupiniquins.
A Folha de hoje mostra a matéria sobre um relatório publicado por técnicos do Ministério do Planejamento do Governo Federal. O tal relatório aponta uma "desarticulação" das ações do próprio governo no combate a inundações e alagamentos no Brasil. O texto é bastante crítico ao citar a "bagunça" no sistema de gerenciamento dos desastees no país, desde a precariedade dos bancos de dados - fundamentais para qualquer ação de planejamento ou mesmo de detecção dos problemas a serem enfrentados - até a falta de critérios para se realizar essa ou aquela obra. Não se sabe nem porque algumas são feitas pelo Ministério da Saúde, outras pelo das Cidades e outras pelo Ministério da Integração Nacional.
Fica claro que o texto, embora fundamentalmente técnico, aponta graves falhas do governo e, indiretamente (mais direto, impossível) nos leva a identificar os reponsáveis pelo grande número de vítimas em Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e por aí vai. Tão claro que o relatório, disponível no site Portal do Planejamento, saiu do ar na semana passada pois, segundo a Folha, teria gerado um desconforto com as críticas às ações do governo.
Em primeiro lugar, se algo causou desconforto em alguém certamente não deve ter chegado perto do sentimento que assolou (e ainda assola) milhares de pessoas atingidas pelos desastres dos últimos meses. A dor da perda de um parente, de sua casa, de tudo o que conquistou durante anos e anos, supera qualquer sensação de desconforto causada por um texto técnico.
Também não é preciso ser um guru para saber que, num país onde se investe 1,1 bi em prevenção contra 5,8bi em reconstrução e assistência algo está errado ou no mínimo, equivocado.
O relatório é (mais uma) constatação negativa em relação à ação do poder público na prevenção de catástrofes como a que matou ao menos 51 em Alagoas e Pernambuco, 229 no Rio de Janeiro e 112 em Santa Catarina (números não oficiais). O números por si só já são uma constatação e tanto, não?
Certamente, ainda temos muito o que avançar em termos de tecnologia, capacitação e organização no que se refere ao sistema de gerenciamento de desastres no Brasil para começarmos a adotar procedimentos que, de fato, atendam a milhões de pessoas que hoje vivem em áreas susceptíveis a tais tragédias. Exemplos como do Chile, México, Porto Rico e Espanha estão aí para serem seguidos e, embora não garantam que todas as catástrofes sejam evitadas, certamente possibilitarão a redução significativa dos danos por elas causados.
Independente de nossas carências, negar, discutir ou questionar dados como os do relatório me parece um grande retrocesso nesse longo e. sobretudo, doloroso caminho.
A solidariedade do povo brasileiro, a liberação do FGTS, o envio de milhões de reais para cidades onde até a sede da prefeitura foi destruída e o fato de Deus ser brasileiro já não são mais suficientes diante tamanhas tragédias. Me pergunto se os verdadeiros desastres são aqueles causados pela chuva ou se são aqueles que decorrem da má administração generalizada antes e depois dela; imperceptívieis aos menos atentos mas tão (ou mais) nocivos quanto.
Fico com essa sensação e creio que podem imaginar o quanto isso me incomoda. Não sou pessimista e acredito, de verdade, que é perfeitamente possível mudarmos esse cenário, lembrando que embora grande parte da responsabilidade seja do poder público, todos, TODOS os cidadãos fazem parte desse sistema, desde o momento em que jogam papel na rua, até quando escolhem seu candidato na urna.
E já que falamos em números anote aí: foram 3 jogos da seleção. Considerando uma coletiva por jogo sendo uma do Dunga e duas de jogadores, somam-se 9. Mais as coletivas da convocação e outras que eu não vi, creio que já passaram de 15. Depois de procurar muuuito, só achei uma coletiva do presidente sobre a tragédia no Nordeste, veiculada apenas na TV NBR, a emissora do Governo Federal. Que coisa, não?
Pra frente Brasil!