Eu sou mais a Palmirinha...
Sábado à noite, sala lotada. Estréia da comédia romântica Julie e Julia, baseado nas histórias de duas mulheres que têm a culinária (não, não é gastronomia, é culinária mesmo!) como hobby, paixão e por que não dizer, sua válvula de escape.
Julia Child é uma simpática tiazona, com 1,90 de altura, voz de desenho animado e que decide trazer a culinária francesa para a América na década de 40. Julia passa por vários obstáculos, mas, graças a seu talento e, sobretudo ao apoio incondicional do marido apaixonado, consegue publicar seu livro de receitas. Julie é uma funcionária pública de NY, escritora frustrada e mimada que durante a crise dos 30 anos decide escrever um blog sobre as 524 receitas de Ms. Child. Julia passa por vários obstáculos, mas graças a graças a seu talento (bem menor que o de Julia) e, sobretudo ao apoio incondicional do marido apaixonado, consegue publicar seu livro.
Super parecidas? Nem tanto... Julia é muito, mas muito mais simpática que Julie. Tem brilho próprio, bom humor, coragem e não desanima nunca. Julie por sua vez é uma mala, insegura e egoísta que quase acaba com o casamento por conta do blog. Julia é pioneira. Primeira mulher americana a cursar a Le Cordon Blue e responsável por trazer a culinária francesa à America. Sua importância para a cultura americana foi tanta que Julia tem uma ala com a réplica de sua cozinha no Museu da História dos EUA. Já Julie tem um blog, que por sinal foi criado graças a seu marido. Aliás, se não é o coitado, a moça desiste, mais uma vez, e larga o projeto pela metade.
O filme é baseado em histórias reais que, na minha opinião, não têm nada de tããão especial assim. Nenhuma trama, nem um mistério, nada que possa surpreender o telespectador. Histórias comuns de pessoas comuns que nos dias de hoje mereceriam no máximo uma matéria de uma ou duas páginas em uma revista semanal. Com exceção ao pioneirismo de Julia Child, o filme nada mais é do que uma típica comédia americana no melhor estilo sessão da tarde, marca da autora Norah Ephron (Harry e Sally, lembram?). Algumas cenas chegam até a dar um pouco de sono...
A verdadeira Julia
Mas por que a crítica elogiou tanto? Por que se falou (e fala-se) tanto desse filme? Bom... O primeiro motivo chama-se Meryl Streep. Que ela é excelente atriz nem precisamos discutir, mas sua interpretação de Ms. Child é impecável. Assisti a alguns vídeos originais de Julia no youtube e a semelhança de ambas é impressionante! Só perde para o Jamie Foxx na interpretação de Ray Charles no filme “Ray” (acho que nem o irmão gêmeo do cantor seria tão parecido com ele).
O segundo motivo, e talvez o principal, é a forma que o filme foi montado. As duas histórias, uma que se passa nos anos 40/50 e outra em 2002, logo após o episódio das torres, se intercalam numa sequencia tão perfeita onde as imagens da charmosa cidade de Paris misturam-se sutil e deliciosamente com as cenas das ruas cinzas e sujas do Queens. Julie e Julia nunca se cruzam pessoalmente (nem no final do filme, pronto, falei!) mas a sintonia entre as personagens fica clara nas cenas em que Julie prepara seus pratos como se estivesse sendo vigiada por sua “mestra”. E é essa sintonia, essa ligação meio que inconsciente que torna o filme especial.
Todo mundo recomenda ir a cinema de estômago cheio. Muitos saem mortos de fome, depois das cenas explícitas de mousses de chocolate, beef bourguignon e manteiga, muita manteiga. Eu saí com vontade de cozinhar... Fiquei até umas 3h30 em frente ao fogão preparando suculentos acepipes e dando um pouco mais de vida e alegria ao interior de minha geladeira. Tudo sem gordura trans, é claro...
Beijos no duodeno