A água que inunda aqui é mesma que inunda lá...
A semana foi corrida (sim, de novo!) e não tive tempo de nada. Não li jornais, não acessei os principais sites de noticias, twittei muito pouco e não ainda estou em dúvidas se a Susan Boyle e a pequena Maisa tem algum parentesco. Enfim... Hoje pela manhã tratei de me atualizar para ter o que discutir com os colegas durante o cafezinho na repartição.
Em meio aos mísseis da Coréia do Norte, à queda do dólar, passando pelo tratamento (e pela peruca!) da ministra até às desculpas esfarrapadas do Sarney (toc, toc, toc), escolhi falar um pouco sobre o rompimento da barragem no Piauí e suas consequências que vão muito além de números e laudos técnicos. Ok, ok, sei que o assunto é capa de todos os jornais tendo em vista o número de vítimas crescente e as atuais discussões sobre o verdadeiro (ir)responsável pela cagada.
É claro que já sabiam que a tal barragem, construída em 2001, vinha apresentando problemas há tempos e que, portanto, poderia romper a qualquer momento. É claro que erraram ao permitir que os moradores voltassem para suas casas mesmo sabendo que a estrutura ainda estava danificada e que as chuvas continuariam. É claro que TODOS os envolvidos vão tentar tirar o seu da reta com discursos que justificam o acidente como “fatalidade” ou mesmo responsabilizam o homem (é isso mesmo!) pela tragédia, o culpando pelas sucessivas agressões a natureza que, segundo alguns, vêm interferindo no clima do planeta causando, por exemplo, o aumento considerável do volume de chuvas. A Folha de São Paulo publicou hoje a declaração de um engenheiro contratado pela Empresa de Gestão e Recursos Hídricos do PI. Segundo ele, nenhuma obra seria capaz de conter tal volume de chuvas. Nessas horas lembro do meu querido professor de geologia Schorscher que sempre nos dizia “Não tem não dá!!!!” ao ouvir desculpas ou justificativas esfarrapadas de alunos que não fizeram o que tinham que fazer por esse ou aquele motivo.
Mas o que me assusta de verdade é o tratamento que vem sendo dado às vítimas tanto desse acidente como àquelas atingidas pelas cheias no Norte e Nordeste que vêm ocorrendo desde março (isso sem contar de todos os anos passados, já que as enchentes por lá não são raras).
Lembro que durante a catástrofe em Santa Catarina em novembro de 2008, em menos de uma semana, o país INTEIRO se mobilizou solidário com as vítimas da tragédia que provocou cerca de cem mortes, além dos milhares de desalojados e desabrigados. Aviões e helicópteros da FAB foram prontamente disponibilizados, as arrecadações de doações bateram recordes. Lembro que trabalhei pra caramba organizando roupas e mantimentos junto a Defesa Civil aqui de São Paulo. Tudo tinha uma dimensão estratosférica.
Hoje as cidades estão em franca recuperação apoiando-se, principalmente no turismo que, para grande parte das cidades, é o motor da economia. Que bom! Ainda há muito a se fazer, sobretudo quanto ao repasse dos recursos do governo, mas devemos concordar que as cidades vêm conseguindo se recuperar e que o auxílio recebido foi fundamental, pelo menos na fase inicial de reconstrução.
O que não consigo entender é por que com as vítimas do Nordeste as coisas são diferentes. Por que somente 06 aeronaves, entre aviões e helicópteros foram disponibilizadas pelo governo federal (em SC foram 28!)? Não preciso dizer que o número de vítimas por lá é significativamente maior. Enquanto em Santa Catariana, cerca de 12 cidades foram atingidas pelas chuvas no ano passado, só no Ceará, em 2009, 75 cidades já foram atingidas pelas cheias. Isso sem contar as cidades dos estados do Maranhão, Bahia, Rio Grande do Norte, Alagoas, Acre, Tocantins, Piauí e Pará. Não quero ficar mostrando números ou estatísticas pois confesso que além de me causarem certa confusão, ainda tenho dúvidas sobre a veracidade dessa informações, mas que as diferenças são gritantes, isso são! Após o rompimento da barragem então...
Se tiverem curiosidade, dêem uma olhada nessa animação feita pelo jornal Estado de São Paulo
http://www.estadao.com.br/especiais/chuvas-atingem-mais-de-1-milhao-de-pessoas,57636.htm
Será que nos acostumamos com as “enchentes no Nordeste” e que essas notícias já não nos causam nenhuma reação? Ou será que o Nordeste atingido está tão longe de nós e tão distantes dos cartões postais regados de sol, mar, água de coco e trios elétricos que achamos que é um “outro” Brasil? Afinal, quem é que mora numa cidade chamada Jijoca de Jeriquaquara (CE) quem nem Defesa Civil tem? Já Blumenau é logo ali, né? Quem é que nunca foi ou ouviu falar em Oktoberfest? Não quero levantar uma uma bandeira pró Nordeste e outra contra a colônia alemã e loira do sul do país, nem tampouco apontar o dedo pra ninguém (exceto para mim mesma!), mas venhamos e convenhamos que já passou da hora de reavaliarmos a atitude do povo brasileiro ao invés de responsabilizarmos o governo por todas as mazelas da nação.
Enquanto escrevo, ouço notícias sobre o aumento do número de vítimas no Piauí e sobre a falta de transporte para levar as doações às vítimas do Ceará...
O sol já apareceu por aqui e eu vou aproveitar e curtir meu último dia com 30 anos!!!
Adios.